sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O Outro Lado Da Moeda 6 - A complexa arquitetura de nossa zona de conforto


Pré-requisito (obrigatório): O Outro Lado da Moeda 5

Autor: Gustavo Spina

Sem luz no fim do túnel, desde o último texto, estamos envoltos em uma escuridão, perdidos, sem saber pra onde ir. Sem enxergar uma saída, sem ter uma esperança, não podemos sequer dar um passo adiante. Por nos encontrarmos em situações como esta, não necessariamente por estes motivos específicos, trabalhamos por muito tempo na construção de ideias, linhas de pensamento e técnicas que nos proporcionassem algumas certezas. Estas certezas nos dão alguma esperança, que por sua vez nos conforta, nos fazendo enxergar, forçadamente, uma luz que nos guia em direção à nossa zona de conforto, mas que, como veremos a seguir, está longe de ser a direção correta.

O processo de trabalharmos na mudança de algo para eliminar algum incômodo é um processo completamente natural. Aliás, é exatamente isso que faz com que nós humanos sejamos os animais mais ‘inteligentes’ da Terra: nossa capacidade de transformar o meio a nosso favor. E ainda mais natural do que isso, nosso próprio processo evolutivo consiste em mudarmos ou ‘nos adaptarmos’ da melhor forma, em relação a alguma necessidade. Sendo assim, é natural que mudemos ou arquitetemos algo que nos tire de posições desconfortantes, como a qual nos encontramos agora que conhecemos relativamente bem a feroz veracidade do mundo em que vivemos.

É fácil de perceber que esta sensação não é exclusivamente consequência dos assuntos que discutimos até agora neste blog. Este vazio sempre esteve presente em nós, proporcionado primordialmente pelas questões que surgiam em nossas cabeças, há milhares de anos: Quem somos? De onde viemos? Por quê e para quê estamos vivos e aqui neste planeta? Quem nos criou? Entre outras infindáveis questões que nos assolavam a mente. A falta de capacidade, principalmente no passado longínquo, de responder a estas questões sempre nos inquietou. Sendo assim, desde que nos tornamos seres capazes de pensar, esta escuridão inquietante nos forçou a preencher este vazio, e foi assim, desde o começo, que começamos a arquitetar nossa zona de conforto.

Antes de discutirmos sobre nossa zona de conforto propriamente dita, vamos introduzir alguns conceitos importantes para esta discussão, como os conceitos de prova histórica e prova científica. Termos a certeza de que a soma dos algarismos 5 e 10 resultam em 15 é completamente diferente de termos a certeza de que Joana d’Arc foi queimada viva. A primeira afirmação se trata de um fato científico, ou matemático, se preferir. Para provarmos sua veracidade, diferentes técnicas matemáticas podem ser utilizadas, mostrando que esta soma resulta única e exclusivamente neste resultado, sempre. Já a segunda, trata-se de um fato histórico, e para provarmos sua veracidade é necessário um processo muito mais complexo. Para provar fatos como este, podemos utilizar técnicas como, por exemplo, perícias policiais, feitas atualmente para solucionar crimes impossíveis, à primeira instância, de serem solucionados. Diversas outras técnicas, que fogem de meu conhecimento, podem ser utilizadas para provar que uma determinada pessoa, esteve de fato em um determinado local, em uma data específica, e que a causa de sua morte foi ou não aquela a qual se suspeitava. Entretanto, essas técnicas, bem como sua precisão, além de serem limitadas; vide casos de crimes atuais que não são desvendados, não existem há muito tempo, tornando quase que impossível provarmos algum acontecimento histórico longínquo, como por exemplo, o modo como Joana d’Arc foi assassinada. Vale ressaltar aqui que, apesar das técnicas para soluções de crimes, com o avanço da tecnologia, estarem cada vez mais aprimoradas, sendo capazes de provar de forma mais eficaz a veracidade dos acontecimentos, este mesmo avanço da tecnologia também nos fornece uma maior eficácia nas fraudes e técnicas de manipulação de imagem e vídeo, transformando materiais como fotos e vídeos, hoje em dia, em evidências fracas e insuficientes na intenção de provar algo.

Para isto, utilizamos como provas documentos e relatos da época, estudados por historiadores e antropólogos, sendo justamente esse tipo de prova a intitulada ‘prova histórica’. O importante deste conceito é que: uma prova histórica jamais provará, com absoluta certeza, que certo acontecimento é um fato, assim como as provas científicas o fazem. Para concluirmos isto, basta enxergarmos que um relato, documento, ou qualquer material escrito ou descrito por pessoas, em qualquer época, depende de uma infinidade de fatores; como a interpretação da pessoa, o que ela quis dizer com aquelas palavras, as intenções dela ao escreverem aquilo, etc., e que por mais que existam milhares de relatos idênticos ou parecidos acerca de um acontecimento, nunca serão o suficiente para provar que ele realmente aconteceu da forma como relatado. Para um bom e ilustrativo exemplo desta ideia, peço ao leitor que nos lembremos do que discutimos no texto de número 4 deste blog, onde analisamos e refutamos todos os argumentos sobre os atentados de 11 de setembro de 2001, chegando à conclusão de que aquele acontecimento está escrito nas linhas de nossa história de forma completamente diferente da qual realmente aconteceu, mesmo com todos os milhares de relatos existentes que corroboram com a história oficial.

Com este exemplo, podemos perceber também o quão difícil é sabermos quando os argumentos e evidências mostradas são suficientes para provar algo. Vimos, ainda relembrando do texto de número 4, que a história oficial nos apresentou fotos e filmagens do ocorrido. Para os mais desatentos, estes poderiam ser argumentos suficientes para que estivesse provado que aqueles ataques foram de fato terroristas. Entretanto, ainda que se tenham muitas evidências, como os vídeos dos aviões se chocando com as Torres, o vídeo do suposto avião batendo no Pentágono, e o vídeo do suposto Osama Bin Laden confessando a autoria dos ataques; não pudemos considerar aquele acontecimento como um fato, e mais que isto: mostramos a falsidade e insuficiência da maioria destas mesmas evidências.

Outra ideia importante que deve anteceder nossas discussões posteriores é a ideia de fatos e argumentos. Agora que sabemos as diferenças entre os tipos de provas, e analisamos as dificuldades de saber quando as evidências apresentadas são suficientes para se provar algo, além das dificuldades de se provar acontecimentos de um passado muito longínquo; vamos entender a poderosa e correta afirmação que diz que ‘contra fatos não há argumentos’. Um conjunto de argumentos, por maior que seja, não constitui, também, uma prova; no máximo valida a sua versão do acontecimento como aquela que faz mais sentido, podendo, dessa forma, substituir a versão posta à prova por estes próprios argumentos. No texto anterior a este, de número 5, foi exatamente isso que fizemos: refutamos os argumentos dados pela versão oficial sobre o assassinato do presidente Kennedy, e apresentamos argumentos que não provaram nossa teoria, mas mostraram-na, em conjunto com todas as discussões anteriores, como uma versão que faz mais sentido que aquela que pusemos à prova com nossa argumentação.

Este, não coincidentemente, é o mesmo método através do qual a ciência funciona. A ciência é uma só, e busca, através de diversos métodos de estudos e experimentação, que em grande parte geram suas provas concretas; a explicação e entendimento de tudo que rege nosso universo, tendo a humildade de admitir, em cada uma de suas leis e teorias, a possibilidade de estar errada, sempre validando aquilo que faz mais sentido, até que se prove o contrário. O método religioso é completamente antagônico. As religiões são muitas, e todas, na maioria de suas premissas, são discordantes entre si. Devido ao fato de possuírem apenas fraquíssimas evidências acerca de suas absurdas afirmações, prende seus fiéis através do medo, compartilhando certezas absolutas sobre os mais diversos e complicados assuntos, elevando o nível da prepotência de seus seguidores ao infinito, simplesmente por julgarem-se capazes de entender e conhecer a verdade sobre tudo, mesmo sem ter ao menos estudado sobre teorias evolutivas ou sobre o cosmos; e principalmente por não admitirem a mínima possibilidade de estarem errados.

Para finalizar esta ideia temos que, por outro lado, quando se trata de um fato, ou seja, quando o acontecimento foi provado ter sido da forma como descrito, não importa quantos argumentos você apresente em prol de alguma teoria contrária – uma vez provada, não há mais discussão. Sendo assim, se um dia o governo dos EUA provar suas afirmações, tanto acerca do assassinato do presidente Kennedy, quanto dos atentados de 11 de setembro, de nada valerá toda a argumentação construída por nós ao longo dos dois textos anteriores. Simples, não é mesmo? Mas, porque não o fazem? Aliás, por que não o fizeram desde o começo? Aproveito aqui para desafiar aqueles que não concordam com o conteúdo deste blog, a provarem que estou errado. Enfim, voltemos ao texto.

Dados estes conceitos prévios, podemos agora começar a analisar a base, os alicerces da forte construção de nossa zona de conforto. Para preencher o enorme vazio causado pela insuficiência e incapacidade de respondermos a todas as questões que somos capazes de formular, nós então criamos respostas a elas. Tentando firmar nossas respostas em algum embasamento, como astrologia ou qualquer outra fonte de pseudociência que houvesse até então, nós criamos o método mais poderoso de pensamento que existe: a FÉ! Como não havia qualquer modo de provar que aquelas respostas àqueles questionamentos faziam mesmo sentido, nasceu ali a fé, deixando a quem questionasse aquelas informações sua mais famosa e marcante característica: ou você acredita, ou não. Parece óbvio, mas não é. Segundo a discussão que fizemos nos parágrafos anteriores, quando algo está provado, ou no mínimo, quando uma versão do acontecimento, além de refutar os argumentos da versão anterior, apresenta argumentos convincentes, nós NÃO TEMOS A ESCOLHA de não acreditar ou aceita-la como a verdade até então; pois como dito anteriormente, a versão que faz mais sentido será a correta até que se prove o contrário, ou simplesmente, contra fatos não há argumentos.

Mas transcendendo a tudo isso, a fé independe de argumentos, e até de provas, pois ela se baseia única e exclusivamente em dois tipos de argumentos: ideias e acontecimentos longínquos. Ambos são impossíveis de se provar, tanto sua veracidade, como também sua falsidade, e este é o verdadeiro e único poder da fé: transcender o campo da argumentação e capacidade de provar a falsidade de suas afirmações, tornando-se, dessa forma, a técnica de pensamento mais forte que existe, pois não pode ser refutada. Para entendermos como ela funciona, precisamos primeiramente entender o que é, e quais são as características de uma ideia. Entender que uma ideia, ou simplesmente algo imaginário, não pode ser provado como verdadeiro nem falso, é imprescindível para que entendamos o ponto onde quero chegar. Como um bom exemplo pictórico, vou afirmar agora que: existe um unicórnio rosa, invisível e indetectável, girando na órbita de nosso sol. Isso mesmo, eu faço esta afirmação, com a mais absoluta convicção, a você, caro leitor. Com isto, basta enxergarmos que, por mais absurda que seja esta afirmação, você, e nenhuma outra pessoa neste mundo é capaz de provar que eu estou errado. Não há, até então, tecnologia que seja capaz de chegar perto do Sol, e mesmo se observarmos de longe, a afirmação diz que o unicórnio é invisível e indetectável! Não obstante, eu e quem mais concordar com a minha afirmação, também não seremos nunca capazes de provar que estou correto, e é aí que entra a fé: ou você acredita, ou não; pois não há nenhum modo de se ter certeza de que esta afirmação é verdadeira, tampouco que é falsa.

Isto se estende para os acontecimentos em um passado distante. Como vimos em nossa prévia discussão neste texto, também não há possibilidades, pelo menos em sua maioria, de se provar que um acontecimento histórico é ou não um fato, devido a falta de recursos para isto. Portanto, não podendo provar que Jesus existiu, tampouco que ele não existiu, isto, assim como uma ‘ideia’, torna-se uma questão de fé. Sendo assim, ambos os pilares que sustentam a fé são tão frágeis quanto ela, dependendo unicamente de sua escolha entre crer ou não crer, baseado em fraquíssimas evidências, acerca de alguma ideia ou acontecimento.

Voltando aos motivos que nos fizeram construir esta técnica, podemos constatar que a fé foi a criação perfeita para que sanássemos o incômodo causado por aquela sensação de vazio. Através dela nós validamos as respostas que criamos para todas as nossas perguntas, escolhendo simplesmente acreditar naquilo, não importando se podíamos ou não provar se aquelas afirmações eram realmente verdadeiras. É claro que não haveria razão ou interesse por parte de alguém, ou pelo menos da maioria, em acreditar que existe um unicórnio cor de rosa orbitando nosso Sol, como exemplificado anteriormente. Isto não responderia nenhuma daquelas questões que nos inquietavam. Por isto criamos outra ideia, talvez não tão ridícula, mas com certeza tão fantasiosa quanto: a ideia de um criador.

Ter a certeza de que existe um ser supremo que a tudo criou, e que está sempre no controle, não é exclusiva de nossa geração. A crença em deuses é tão antiga quanto nossa capacidade de pensar e formular questões. O que quero dizer é que, exatamente como estou mostrando neste texto, desde que começamos a nos questionar criamos as respostas às nossas questões, asseguradas e protegidas pela fé, e dentre elas, a resposta mais completa e valiosa, foi a de que um ou mais deuses criaram a tudo o que sempre existiu, inclusive, é claro, a nós mesmos. Isto respondia a tudo. E, por nos assegurar tantas respostas e preencher tanto nosso vazio interior, esta crença nunca caiu em desuso, apenas foi sendo aprimorada ao longo do tempo. O que, há muitos anos atrás era tido como verdade absoluta como, por exemplo, a existência de diversos deuses que viviam no Olimpo; hoje é visto como mitologia, o que provavelmente acontecerá com a nossa atual verdade absoluta, em um futuro distante.

Neste ponto do texto é plausível que mostremos o fato de que, conforme o tempo passa, a religião e a fé diminuem, na mesma proporção em que o progresso científico aumenta. Isso se deve ao fato de que fé assegura crenças em algumas ideias que não podem ser provadas falsas em uma determinada época, entretanto, a ciência em seu constante avanço torna-se capaz de provar, em épocas posteriores, a falsidade daquelas afirmações, fazendo com que, ao mesmo tempo e em uma mesma intensidade, a fé caia, e a ciência se levante. O melhor exemplo deste fenômeno é o da antiga crença de que a Terra era o centro do Universo, conhecida como Geocentrismo.

Por volta de 1500, acreditava-se que o planeta Terra era localizado ao centro do Universo, e que todo o resto girava ao nosso redor. Esta afirmação foi então contestada por Galileu Galilei, que através de seus estudos, ou melhor, da ciência, mostrou a falsidade desta crença. Após isto, surgiu então a crença de que nosso Sol é que se localizava no centro do Universo, e que todo o resto girava ao redor dele, conhecida como Heliocentrismo. E mais uma vez, centenas de anos mais tarde, esta teoria também foi provada falsa, como sabemos hoje. É trivial, atualmente, enxergarmos que estas afirmações eram incorretas. Entretanto, na época eram tidas, religiosamente, como verdades absolutas, causando sérias consequências a quem as contestasse. Ao longo do tempo, diversas ideias como estas foram sendo provadas falsas através do avanço da ciência. Pesquise para constatar.

Sendo um pouco mais atentos a estes fatos, é possível observar que muitas das crenças que temos hoje em nossas cabeças como verdades absolutas, ditadas por religiões e asseguradas pela fé, podem ser futuramente contestadas e provadas falsas, através deste mesmo constante avanço científico, e que, lá na frente, a humanidade olhe para trás e considere também trivial enxergar que são crenças falhas e patéticas. Lembre-se disto ao afirmar, categoricamente, que somos os únicos seres inteligentes no universo, pois a ciência está cada vez mais próxima de nos provar o contrário.

Devido a esta constante e não declarada luta entre a ciência e religião, as ideias e crenças religiosas foram sendo aprimoradas. Voltando novamente à questão do criador, passamos então da crença em vários deuses, ou Politeísmo, à crença em apenas um deus, o Monoteísmo, que vigora na maior parte do globo até hoje. Diversas antigas religiões e crenças foram dando lugar às crenças mais bem estruturadas, chegando finalmente à situação a qual nos encontramos hoje, sendo um mundo predominantemente monoteísta e cristão, com aproximadamente 2 bilhões de fiéis concentrados principalmente no ocidente.

Neste texto vasculhamos e descobrimos no que se baseia e os motivos que nos levaram a criar a complexa arquitetura de nossa zona de conforto, podendo constatar o quão frágeis são os pilares os quais ela se baseia. Vimos que, apesar de nos fornecer, forçadamente, uma luz no fim do túnel, nos guiando a uma direção, esta direção está longe de ser a correta. Para finalizar esta discussão, no próximo texto nós refutaremos o irrefutável, aplicando nosso característico método científico às crenças mais difundidas no mundo, a crença em Deus, o deus cristão descrito na Bíblia, e a crença em Jesus Cristo, colocando à mostra o outro lado das mais poderosas crenças que já existiram, colocando à mostra, como nunca antes, O OUTRO LADO DA MOEDA.

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